Ultimamente, o número de interessados em imigrar para o Québec tem crescido, no entanto, o despreparo tem sido o vilão destes aventureiros.
Sem dúvida a pesquisa e a organização deve estar intimamente ligada ao processo.
Prazos, valores, organização de documentos, check list, uma boa agenda, estatística, planejamento financeiro e muita, muita leitura e pesquisa deve ser parte central do processo.
Não dá pre se encantar com a possibilidade de viajar, e eu falo de imigrar para um outro país e cultura, sem ter os pés, cabeça e coração bem firmados na proposta.
Nos últimos dias alguns amigos muito chegados partiram para o Canadá. Tenho os acompanhado por e-mails e rede sociais e o que tem feito diferença na adaptação é sem dúvida o quanto eles se prepararam para cada momento.
Eles são para mim um exemplo de preparação, organização e coragem.
Segue abaixo um pequeno relato de Ignácio e sua esposa, rumo ao Canadá.
Sucesso a todos!
"...saímos com meras 8 horas e meia de antecedência. Não queríamos obrigar nossa amiga que ofereceu gentilmente a carona a ir ou voltar no trânsito infernal da Marginal Tietê em horário de pico. Além disso, queríamos ter tempo de despachar as malas com calma. Foi tanta calma que até nos revezamos para dormir na sala de espera, antes que abrisse o balcão da Air Canada. O sossego só foi perturbado por um passageiro sem noção que achou que todos os outros queriam ouvir a música que ele ligou na caixa de som do computador e cantava em voz alta sem nenhuma inibição ou afinação. Quando mostrei a ele que ele não estava numa festa particular, sua decepção foi tamanha que ele só conseguiu ficar de boca aberta, com cara de quem não lembra onde deixou cair o cérebro, e foi embora.
Tirando esse contratempo insignificante, tudo o mais fluiu na maior serenidade. A vantagem da preparação é justamente essa sensação de que nada escapa às suas mãos. A não ser, por infortúnio, o imenso tubo de cartazes que eu levava comigo e desapareceu sem explicação. Quando demos pela sua falta, depois de mais de uma hora diante do portão de embarque, voltei correndo para o controle de bagagens, onde todos os funcionários foram muito solícitos para devolver o tubo, que estava guardado junto à máquina de raio X. Ainda bem que, dessa vez, foram eles que tiveram cuidado. Por mais que eu tentasse, nenhuma preparação me faria ter cinco mãos.
Depois de um vôo muito tranqüilo, na nossa primeira tarde em Montreal conseguimos resolver tudo que era para ser feito nos dois ou três dias seguintes, de acordo com nossa lista: comparecer à imobiliária, assinar o contrato de locação temporária, receber as chaves do estúdio alugado, guardar as malas, telefonar para o serviço de imigração, marcar a abertura de conta no banco, pegar o metrô para o centro da cidade, tirar o número de previdência social, fazer inscrição no seguro de saúde público, comprar adaptador de tomada, ir ao supermercado. Não é à toa que nossa cotação de pessoas prevenidas já tinha passado de duas, pois fizemos o trabalho de umas quatro ou cinco!
É verdade que tudo isso só foi possível graças à colaboração das instituições locais. No Service Canada, uma espécie de Poupatempo do governo federal onde os recém-chegados tomam a primeira de todas as providências, que é registrar-se na previdência social, não havia fila nenhuma e fomos atendidos com muita simpatia. Na agência do seguro de saúde, gerido pelo governo provincial, nem bem pegamos nossa senha que já tivemos de levantar da cadeira para sermos atendidos. Os próprios funcionários tiram as cópias dos documentos, as fotos são feitas na hora no mesmo lugar. E a maioria dos atendentes, a julgar pelos nomes eslavos, olhos puxados, cor de azeitona ou lenço na cabeça, não nasceu no Canadá, mas importou do seu país ou adotou no local a mesma eficiência e cordialidade. Foi no final desse primeiro dia que começamos a sentir afinidade com tudo que nos espera por aqui.
Voltando ao estúdio, exaustos mas contentes, tivemos a satisfação de riscar todos os itens da lista de duas páginas que trouxemos do Brasil. Logo em seguida, já inauguramos a nova lista, de providências pós-imigração, a começar pela procura de trabalho. Só espero que não obriguem estes imigrantes ultra-precavidos a também trabalhar por cinco!"