Sentei no chão e chorei sozinha.
(...)
Enquanto o último móvel descia e a chave na mão aguardava ser entregue, registrei o vazio daquele espaço lindo, colorido e iluminado.
Meu apartamento amarelo, de porta azul, e uma linda e enorme janela será um dos lugares que mais sentirei falta, aaaah e a janela.
(...)
A casa dos meus pais agora é o meu refúgio, já não me sinto de lugar nenhum, sem minha casa, sem minha cama, sem um lugar pra chamar de meu lar.
Tudo agora é caos, nada encontro, nada percebo e tudo misturado confunde e enfada os olhos.
Tudo agora é quadrado e de papelão, encaixotado para a despedida, que se resumirá em malas cheias de esperança.
O poder de sintetizar virou minha sina; o sapato, a roupa, os presentes, os livros, meus pincéis, e minha arte se espremem desejando fazer parte de uma nova história, como se disputassem um lugar de importância, não sabendo que são todos especiais.
Neste caso o especial dá lugar ao essencial que se soma as gramas de uma mala compactada e de peso definido.
Vender, se desfazer, doar, se dar, faz parte de um processo doloroso de aprendizagem ao que parte. Crescemos e aprendemos a lidar com sentimentos, coisas e pessoas como nunca imaginávamos.
O abraço que acalanta, a boca que sorri, as mãos que apertam, contrastam com o olhar que inveja, com os braços que se cruzam e com línguas que duvidam.
A idéia toma forma, agora é um número, uma data, e o nascer do sol e da lua são eventos comemorados como se fossem os últimos, ao mesmo tempo que encurtam os dias e as horas.
O tempo passa veloz, sem que possamos nos despedir lentamente e decentemente de quem amamos.
E para quem amamos deixamos o vazio, a ausência, uma mágoa e mesmo sem querer demonstramos que escolhemos estar longe e isso deve doer, sim, porque todos choram ao perceber que partiremos.
Cada gesto, cada olhar, cada beijo e abraço o desejamos para a eternidade, até parece que nunca mais os encontraremos.
Sentimos medo em deixá-los para trás.
E se não os vermos mais? E se não der tempo de voltar? E se...o medo também tem seu espaço na bagagem e é esta bagagem que levaremos e carregaremos vazias de ausência e cheias de esperança.
Boa noite Diário.
16 comentários:
Lindo. Quase chorei com o texto. Força e fé!
bjs
Olha... fiquei comovido com seu texto.
Estamos passando pelas mesmas coisas por aqui. A fase do desapego já começou desde a chegada dos nossos vistos, e as coisas estão indo embora devagar... Hoje foi a vez dos livros que restaram das doações para a universidade... Daqui a pouco virá o rapaz para fotografar nossas coisas para a venda de garagem... Preparando o apartamento para ser alugado... é assim...
Mas pense que mais cedo ou mais tarde essas coisas iriam embora... você mesmo iria embora. Como está indo. Chore o que tiver que chorar, mas estamos em busca de algo melhor e logo virá tudo novo... um mundo novo diante de vocês. Então virão os sorrisos!
Bonne Chance!
Alex, do blog canadaselfemployed.tumblr.com
Chorei! Traduz todo nosso sentimento de partida!!!
Este e exatamente o sentimento!!!
Boa sorte em sua jornada
ANDRADE
Força! Aponta pra fé e rema!
Infelizmente nem tudo nem todos cabem na nossa mala, nem todos compartilham dos nossos desejos, mas vou falar pra vocês o que eu gostaria de ouvir quando ( e se) chegar minha vez!
PARABÉNS!!! ESTOU MEGA FELIZ POR VOCÊS! Que tudo seja lindo e repleto com todas a dificuldades que podem ocorrer, é lá que vocês vão se encontrar e fazer sua nova vida com sua parede amarela e uma grande janela!
Mudanças são importantes e nos fazem crescer e se não der certo as portas e corações de todos que aqui estão, estará sempre aberta pra receber vocês!
Muito sucesso na nova jornada!
Itinha
Nossa, que lindo... Ainda estamos na metade do caminho, mas me apertou o coração ler esse texto. É um misto de querer muito essa sensação e medo de senti-la... rs
Acho que imigração é isso, um misto de medo e euforia. Tudo o que é novo da medo, faz parte.
bj
Tata
Sabe o que mais amo no meu Diário? Ler todos estes comentários.
Capaz de encher nosso coração de fé e força.
Muuuuuito obg.
Quer ouvir uma boa notícia? Não é difícil achar casas e apartamentos no Canadá, com grandes e largas janelas...
Booooooooooa notícia Sandro, kkkkkk
Obg!
Teu texto descreve muito bem o sentimento deste período. A gente parece ficar sem chão...
Mas muita coisa nova está por vir! Força!
Abraços!
Femme
Parabéns pelo texto! Agora é pensar nos abraços que virão e nas janelas (reais e figurativas) que abrirão no Canadá!
Abraço!
Juro que fiquei emocionada!
Acho que a parte do desapego será a pior para mim, sou muito apegada à tudo.
Desejo apenas serenidade, muita serenidade!
Abraços.
Que belo texto, que belo blog! Ainda estamos no início do processo e sentir o pouquinho de como será na nossa vez.
Parabéns e espero um dia ser novamente seu conterrâneo.
Um grande abraço de nós daqui do http://dooxenteaooui.blogspot.com/.
Força e boa sorte !
abraços.
Parabéns pelo blog!
Estamos conhecendo o programa de imigração agora e iniciando o curso de francês, sabemos que teremos um longo caminho pela frente e com certeza farei muitas visitas à sua página, pois ela está muito bem elaborada e nos ajudará muito!
Obrigada!
Que Deus abençoe seus caminhos!
Muito lindo!!!! Já acompanho seu blog a muito tempo, só q n lembro ter comentado em nenhum outro post.... n por n ter gostado do q li.....e sim por só querer acompnhar sua experiencia; mas suas palavras neste ..... me deu vontade de te abraçar e dizer: "CALMA VAI DAR TUDO CERTO". Grande abraço então e muitas felicidades na nova vida.
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